O meu primeiro bife.

Lá pelos idos de 1987, começo o dia deixando para trás a minha terra natal, a mesma terra que inspirou Érico, Cruz Alta da panelinha, bendita fonte encantada. Após cinqüenta minutos de estrada, almoço em Ijuí na casa de uns velhos conhecidos de meus pais. No início da tarde embarco em um ônibus, com destino a Serra, última parada será na cidade da festa da Uva. Viagem que nunca esqueci, cruzei o estado pela primeira vez, lembro de Passo Fundo, Marau, Nova Araçá, Nova Bassano, Nova Prata, tantas novas em busca de uma nova vida.

Que viagem, a geografia transpassando a história, paisagens européias em terras gaúchas, traços da estrada, traçando a história de vida. Sonhos, realidade, lágrimas, sorrisos, surpresas, expectativa, esperança, tudo em apenas uma viagem. A viagem que rompe a fronteira. Mas que fronteira? A fronteira de menino para a vida adulta.

O menino que jogava bola nos campinhos de Cruz Alta, bolita no barro vermelho, e que rubrava o rosto pelas gurias, sonhava com as paqueras, conversava e fazia planos com os velhos amigos adolescentes deixava tudo isso na memória e rumava em busca do novo, atrás da história, buscava o primeiro emprego.

Após a primeira longa viagem de minha vida, desembarco, chego no fim da linha, rodoviária de Caxias do Sul, nervoso olho para todos os lados procurando pelo meu pai, torneiro mecânico de dia e garçom à noite, havia deixado o trabalho para esperar o filho que também tentaria a sorte na cidade dos “gringos”. Admirado com os prédios altos, que para mim pareciam arranhas céus, seguimos rumo a Borges de Medeiros, parecia que não terminava nunca aquele caminho, poucas quadras que na época pareciam quilômetros, contrastes da cidade grande. Curtos longos caminhos.

A fome já fazia com que minha barriga encostasse-se ao espinhaço, sonhava com um prato de arroz e feijão com “bife” de paleta, era tudo naquele momento. Mal imaginava eu que naquela noite ao romper o dia 25 de fevereiro de 1987, a minha primeira refeição em Caxias seria um bife de filé “mignon” feito na chapa, no Restaurante Casa da Nona.

O meu primeiro bife em Caxias.

Saulo Rodrigo Bastos Velasco
Professor de História

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